Teve início em Portugal e no oeste de Espanha a campanha “Salvar o tartaranhão-caçador”, uma iniciativa dedicada à proteção dos ninhos desta ave migratória ameaçada de extinção. O objetivo principal passa por aumentar o sucesso reprodutor da espécie e reduzir a mortalidade das crias, contribuindo para a sobrevivência do tartaranhão-caçador (Circus pygargus), também conhecido como águia-caçadeira, gavião ou gabilan.
A campanha integra o projeto LIFE SOS Pygargus – Ações urgentes de conservação das populações de tartaranhão-caçador em Portugal e Espanha, e conta com o apoio fundamental dos agricultores, cuja colaboração é considerada essencial para o sucesso das ações de conservação.
Entre as principais atividades da campanha estão a monitorização da espécie nos seus principais territórios no oeste ibérico, a identificação e proteção de ninhos, o resgate de ovos e crias quando não é possível garantir a sua segurança no campo e a sensibilização dos agricultores para a importância da sua participação ativa.
O tartaranhão-caçador permanece na Península Ibérica entre março e setembro, após o seu regresso de África. Em Portugal, encontra-se classificado como “Em perigo” de extinção, com uma alarmante redução populacional de 80% na última década. Em Espanha, está considerado “Vulnerável”, embora o seu estatuto esteja atualmente em revisão.
Esta ave nidifica diretamente no solo, sobretudo em campos agrícolas com cereais ou forragens, o que a torna especialmente vulnerável a ameaças como a perda de habitat, alterações nos métodos de cultivo, mudanças climáticas e atividades agrícolas durante o período de nidificação, que frequentemente levam à destruição dos ninhos.
Face a este cenário, torna-se crucial a atuação conjunta entre agricultores, cientistas e conservacionistas, que trabalham para localizar ninhos e implementar medidas de proteção, como a colocação de vedações temporárias para evitar a predação e garantir a segurança durante as ceifas.
Além da sua importância para a biodiversidade, o tartaranhão-caçador desempenha um papel útil na agricultura, ao consumir mais de mil animais considerados prejudiciais para as culturas durante a época de reprodução. Os agricultores que colaboram na sua proteção podem ainda beneficiar de apoios agroambientais atribuídos pelo Estado.
Quando não é possível garantir a segurança dos ninhos no terreno, a campanha contempla o resgate de ovos e crias, que são acolhidos em centros especializados, onde são submetidos a incubação artificial e criação em cativeiro. Posteriormente, os juvenis são integrados em programas de “hacking”, que permitem o seu desenvolvimento em ambiente natural controlado até estarem aptos para serem libertados.
Estas aves são também anilhadas e equipadas com dispositivos GPS/GSM, possibilitando a sua monitorização a médio e longo prazo e contribuindo para o aprofundamento do conhecimento sobre a espécie.
Paralelamente, está a ser criada a rede “Amigos do tartaranhão-caçador”, que visa reunir agricultores, voluntários, empresas e cidadãos interessados em apoiar a conservação da espécie. Os interessados podem aderir através do e-mail: lifesospygargus@palombar.pt.
O projeto LIFE SOS Pygargus é financiado em 75% pelo Programa LIFE da União Europeia, contando com cofinanciamento da Viridia – Conservation in Action, Lightsource bp e Fundo Ambiental, sendo implementado por um consórcio alargado de entidades portuguesas e espanholas ligadas à conservação da natureza, investigação científica, agricultura e desenvolvimento regional.